sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Liderança homeostática, é possível?

   Uma gangorra jamais ficará com os dois lados na mesma posição, a não ser que algo suficientemente forte posicione-se no centro dela e a equilibre. Caso contrário, sempre haverá um lado em cima e outro lado embaixo. Essa simples lógica me veio à mente quando com vinte e tantos anos me distraí juntamente com dois amigos a brincar de subir e descer numa gangorra.

   Era uma linda manhã de domingo, inverno de 2013, ainda estava cedo quando deixamos o hotel e decidimos por passear sem rumo com nosso espírito aventureiro de turistas pelas ruas de Montevideo. Sem mapas ou guia turístico, seguimos nosso passeio. Tudo era muito encantador, as folhas secas espalhadas pelas ruas uniam-se às construções de arquitetura charmosa e preservada e trazia uma paisagem com ar de Europa. A beleza dos edifícios que estampavam em seus detalhes vestígios do passado histórico nos enchia os olhos. 

O dia estava muito frio, principalmente pra nós, brasileiros desacostumados com temperaturas tão baixas. Ventava bastante na capital do Uruguay e logo a chuva fina começou a cair lentamente; andamos algumas quadras e estávamos diante de prédios antigos e espaçosos com grandes gramados à frente que beiravam as Ramblas – avenidas largas e extensas que contornam a costa de Montevideo. Estava pouco movimentada e assim, atravessamos a avenida de braços abertos sentindo a sensação de liberdade que o lugar proporcionava.

  Já do outro lado estávamos nós na Praça República Argentina, um espaço amplo, sem muitas árvores, com gramas verdes e macias. Um paredão de pedras separava a avenida da pequena praia do Rio de la Plata. Ali havia poucas pessoas, alguns cães brincavam com seus donos na areia e corriam eufóricos de um lado para outro, na calçada alguns pombos ciscavam distraidamente sem se importarem com quem ali passava, o horizonte ao mesmo tempo em que distante, parecia estar muito próximo. Embora que fôssemos bastante familiarizados com praias, não podíamos deixar de eternizar aquele momento, e assim, cada um com sua câmera fazia belos registros, com todas as poses e sorrisos, de todos os ângulos.

   Um pouco mais a frente um parque para crianças completamente ausente de pequenos, pareceu nos convidar a brincar. A simplicidade e aconchego do lugar nos impulsionou a viver por instantes a beleza da infância, afinal, naquela manhã os brinquedos eram todos nossos. Não nos incomodou o fato de que talvez alguns ‘adultos’ ririam da situação, até porque, não conhecíamos ninguém e ninguém nos conhecia.  Sem hesitar, nos entregamos à diversão.

  O sobe e desce da gangorra não me era novidade, mas as sensações que ela produz sempre são novas. Naquele dia, enquanto eu estava vezes muito próxima do chão, vezes elevada com os pés no ar, em meios às risadas me recordei do que havia ouvido no dia anterior, quando juntamente com um grupo de amigos brasileiros, e jovens de outros países, participava de um encontro para líderes juvenis na Intendência Municipal de Montevideo. Havia pastores, músicos e escritores renomados que nos proporcionaram situações e aprendizagens maravilhosas. Em meio aos momentos de comunhão, alegria e à atmosfera de adoração que nos envolveu, uma frase, das muitas palavras produtivas que foram faladas, me despertou a atenção. Quem a disse foi Pastor Marcos Witt, que durante sua fala divertida e inteligente afirmou: “No te achiques, pero no te engrandes”, isto é, não te menospreze, não te faças pequeno, mas também não te exaltes não te engrandeças.

  Os ouvintes lá presentes depositaram ainda mais atenção à fala do pastor e podia-se ouvir jovens afirmando uns aos outros: “no te achiques”, “no te engrandes”. Por um momento, pareceu-me paradoxal, pois estamos habituados à ótica dos extremos, ou estamos aqui ou lá, em cima ou embaixo, perto ou longe. Entretanto, logo percebi que Witt referia-se justamente ao equilíbrio que se deve ter entre um e outro, em como um líder deve se portar emocional e espiritualmente diante de seu grupo.

  Certamente que todos nós em algum momento da vida fomos liderados por pessoas que se achavam incapazes, viviam acanhados e demonstravam claramente que sentiam-se inferiores, mas havia também, e sempre há, aqueles que carregavam uma faixa de super líder, podiam, sabiam e faziam  “tudo”, pelo menos 50% da reunião era gasta por ele para elucidar suas qualidades.Essa é uma realidade constante na vida da liderança, desde os tempos bíblicos encontramos homens que foram chamados por Deus para exercer a função de líder e que reagiram de diferentes formas tanto ao chamado quanto durante o exercício da liderança. Podemos destacar entre muitos, dois personagens bíblicos jovens que apresentaram reações distintas quanto ao seu chamado – Jeremias e Sansão.

  Jeremias era de uma família de sacerdotes da tribo de Benjamim da cidade de Anatote (Jr 1.1), ainda muito jovem foi chamado para o ofício profético, porém não era uma missão qualquer, ele teria de confrontar os líderes e o povo por causa do pecado, profetizar o exílio de 70 anos na Babilônia e o retorno dos remanescentes a Judá. Talvez como qualquer outro, Jeremias relutou diante do novo desafio, pois lhe faltou autoconfiança, se sentiu sem habilidade e experiência para ser um profeta diante das nações e chegou a afirmar que não sabia falar, pois era uma criança (Jr 1.6). Mesmo ouvindo a voz do Senhor dizendo que o havia escolhido e santificado ainda quando estava no ventre de sua mãe, Jeremias hesitou, deixou que o medo e sua visão de si mesmo falasse mais alto que o chamado de Deus. Contudo, apesar de no primeiro momento Jeremias ter se “achicado”, ele decidiu confiar naquele que o havia escolhido, mesmo ainda duvidoso de seu potencial, ele acreditou que com a ajuda de Deus poderia exercer o chamado. Durante seu trabalho, muitas dificuldades lhe sobrevieram, Deus não o livrou das situações difíceis, dos insultos, das prisões, mas em todo momento esteve com ele. Dessa forma, Jeremias pôde perceber que apesar de sua fragilidade, era forte, pôde ter autoconfiança, não num sentido de soberba, mas porque Deus o havia escolhido e prometeu lhe capacitar.

   Sansão por sua vez, nasceu em Zorá, filho de Manoá da Tribo de Dã. Sua mãe era estéril, mas Deus a escolheu para ser mãe do nazireu que começaria a livrar Israel da mão dos filisteus. O voto de nazireu feito pelos pais de Sansão era para toda a vida, e por isso ele não poderia cortar seu cabelo, tocar num cadáver ou beber bebidas que contivesse álcool (Jz 1-7).  Desde muito cedo Sansão sabia de seu potencial. Era forte, determinado e conquistador, porém deixou que isso prevalecesse em sua personalidade, deixou de lado seu nazireado para satisfazer as próprias vontades. Tinha tudo para ser um grande líder,capacidade para fortalecer sua nação, para acabar com os filisteus, mas vacilou no controle emocional, não tinha disciplina, nem limites, foi desobediente a princípios e não atentou aos conselhos de seus pais, se deixou guiar pela compulsividade e pelo descontrole das emoções. Ainda assim, apesar de tudo, Sansão conseguiu realizar o propósito anunciado pelo anjo do Senhor antes de seu nascimento. Ele deu início ao resgate de Israel da mão dos filisteus. Sansão poderia ter feito muito mais, tinha potencialidades para isso, mas deixou que seu excesso de autoconfiança lhe impedisse. Teve uma liderança curta e uma morte precoce, desperdiçou parte de sua vida. Apesar deu seu nome estar na lista dos Heróis da Fé, muitos lembram dele como alguém que desperdiçou seu potencial.

   Atualmente, o quadro continua o mesmo. Dentro das igrejas encontramos líderes com diferentes perfis, uns que se assemelham ao de Jeremias, outros ao de Sansão. É comum também, ouvirmos jovens insatisfeitos com sua liderança, com seu modo de agir diante do grupo e com a forma que tratam seus liderados. É certo que líder perfeito não existe, até porque a perfeição na maioria das vezes será vista com relatividade.  Agradar a todos é uma tarefa difícil, trabalhosa, os liderados são jovens com formas de pensar e agir completamente distintas um dos outros, com opiniões e princípios que muitas vezes colidem entre si. Todavia, isso tem servido de desculpa da parte de algumas lideranças para se acomodarem, conformam-se com o que são e não buscam por aperfeiçoamento. Acreditam que se Deus os escolheu assim, é assim que devem permanecer. Quem sofre as consequências é todo o grupo, que muitas vezes se reúne para ouvir um líder que nem se quer acredita em si mesmo, que dirá nos jovens.  Ou um líder que acredita tanto em si que não sobra espaço para apostar nos jovens.

   Um líder que se sente incapaz, dificilmente tomará frente no seu grupo, prefere estar sentado e deixar que outro se encarregue das responsabilidades, sempre se vê inútil para exercer alguma atividade, alimenta constantemente seu complexo de inferioridade e deixa isso evidente aos que estão ao seu redor. Seus liderados estão sempre buscando motivá-lo, pois percebem a necessidade disso. O líder sozinho não é capaz de automotivar-se, é como uma criança mimada que precisa da atenção de todos voltada a ela.                                                Algumas das características desse tipo de líder são:

  • ·         Pensamentos e emoções negativas                                         
  • ·         Cultivo de pessimismo e fracasso
  • ·          Insegurança quanto ao chamado
  • ·          Vulnerabilidade
  • ·         Falta de persistência
  • ·         Desânimo


Já o líder como excesso de autoestima, sente grande necessidade de aparecer, gosta de falar, de se impor, mas não costuma parar pra ouvir. Afirma sempre que poderia estar em qualquer outro lugar ao invés de estar com os jovens, deixando claro que está onde está apenas porque se acha capaz e não por querer contribuir para o reino. Seus liderados sentem-se desestimulados, pois não encontram espaço para trabalharem e quando fazem algo, temem pela desaprovação de seu superior. Líderes desse tipo, comumente se escondem atrás de um orgulho doentio, se vangloriam por seus atos constantemente, fazem disso seu combustível.                                                                                                                             Características comuns a esses líderes são:

  • ·         Necessidade por destaque
  • ·         Insensibilidade
  • ·         Egocentrismo
  • ·         Realização dos objetivos a qualquer custo
  • ·         Otimismo exagerado
  • ·         Vanglória

  O indivíduo que está à frente de uma liderança tem o poder de influenciar tanto para o bem quanto para o mal. Seus liderados se espelham nele, imitam seus pensamentos, atitudes e a forma como tratam o próximo. Se o líder não se preocupar em formar líderes, então seu exercício de liderança será um fracasso. Se não houver sucessores, o tempo de liderança não teve validade. É preciso que durante o tempo em que se está à frente de um grupo, seja feito o trabalho de um garimpeiro, encontrar o ouro em cada pessoa, o melhor de cada liderado, pois “ninguém é tão comum que não seja interessante”, todos possuem algo muito proveitoso.

   O líder será sempre lembrado pelas atitudes que tomou ante uma determinada situação, sejam elas louváveis ou não. Cada líder possui uma personalidade, e isso é o que lhe torna único, o enfoque aqui não é a mudança de personalidade, mas o aperfeiçoamento de caráter. Se o líder se parece com Jeremias ou Sansão, se ele se “achica” com frequência ou em todo tempo se ensoberbece é preciso que encontre o equilíbrio, é preciso que trabalhe em si aquilo que está atrapalhando seu bom desempenho. Jesus foi o grande exemplo de liderança e deve ser seguido por todos. Ele foi o único totalmente equilibrado em todas as situações, suficiente para não se empolgar com os elogios que recebia, e nem se revoltar com as críticas e perseguições. Teve equilíbrio para ser humilde e servir sem se sentir incapaz, em nenhum momento sentiu-se grande e poderoso, mesmo sendo grande e poderoso.

Cássia de Oliveira




terça-feira, 19 de agosto de 2014

O Meu Papel Parede!



         Três horas da madrugada e eu me pergunto o quê minha mãe talvez já tenha se perguntado há bastante tempo: porque eu escrevo na parede enquanto minhas gavetas estão cheias de papéis?

Bem, não foi preciso pensar muito. Comecei a responder pra mim mesma que escrevo nas paredes não porque sou desocupada ou porque as pessoas que entram em meu quarto acham legal. Dentre outras razões, faço isso porque aprendi que o travesseiro não serve apenas para uma agradável noite de sono. Além de contribuir para um bom descanso, ele é um companheiro que ajuda a alar a imaginação. Assim como a escrita, ele parece desembaraçar os pensamentos mais complexos. Agora provavelmente você acaba de pensar, “ué! O que travesseiro e parede têm em comum?”, e eu explico, por muitas vezes esse objeto fofo de repousar a cabeça foi testemunha secreta dos meus pensamentos mais insanos e embaraçosos. Durante esses momentos em que eu tinha apenas ele como companhia física pra dividir o que se passava em minha mente, eu mantive meus olhos abertos, fitos na parede e isso me foi a solução de não me perder em meio ao turbilhão de ideias, reflexões e dúvidas.

Quando me senti triste, olhei pra frente e li na parede que “ostra feliz não faz pérola”, logo, preciso de tempos difíceis pra produzir boas coisas.
 Quando ansiosa em demasia, “piano, piano se va lontano”, percebi mais uma vez que ao ir muito rápido, canso demais e perco a força para prosseguir. 
 Nos momentos em que pensei nunca poder influenciar, “vós sois a geração eleita”, e pude ouvir novamente a voz do meu amigo Espírito Santo dizendo: “sim, eu te escolhi”. 
 Naqueles dias que enganei a mim mesma aparentando ser o que não era, “esse quam videri”, e lembrei que muitas coisas mudam, mas o ser ainda ultrapassa a aparência. 
 Quando parecia tudo perdido, “a esperança viva está”, e descartei definitivamente o ditado “a esperança é a última que morre”, afinal, ela não morre, apenas se esconde vez ou outra. 
 Em tempos onde o medo me atormentava, “se Deus está conosco não há o que temer”, relembrava que meu Deus é maior que tudo. Ele é o Eu Sou. 
 Quando pedi a morte por desejar mais estar com Deus do que aqui, “hold on, we’re going home”, entendi que já esteve bem mais longe, muito breve, num piscar de olhos, estarei em casa. 
 Nas situações em que pensei não valer a pena escrever, “verba volant scripta manent”, e compreendi que talvez daqui a algum tempo, alguns não poderão me ouvir, mas poderão me ler. 
 Quando desacreditei da existência de pessoas sensíveis à poesia, lá estava na parede um poema feito pra mim, concluí que nem tudo está perdido. 
 Em momentos que permiti surgir uma faísca de vingança, “bem aventurado os pacificadores”, e lembrei que sou seguidora de Cristo. 
 Nas horas que lamentei por ter falhado, “And I’m horrible limited”, acordei para a realidade – sou humana. 
 Quando reclamei da dificuldade em alcançar meus sonhos, “Quanto maior o objetivo, maior o sacrifício”, mais alguma reclamação?
 Nos dias que apenas chorei, “e Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima”, continuei chorando...

E então, diante disso, concluí que pra falar com o rei Belsazar Deus escreveu na parede, na minha, eu mesma escrevo, mas também ouço a voz dEle. Uns acham legalzinho, outros falta do que fazer. Pra mim é muito mais. Aprendi que posso ouvir a voz de Deus de diversas maneiras, em todos os lugares e com apenas uma condição, a de ter a sensibilidade de deixar os ouvidos sempre abertos.



Cássia de Oliveira
(14/08/14)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Sobre o desafio de seguir a Cristo

   Aceitar a obra de Deus é estar muitas vezes aonde se preferia não estar, é sujeitar fazer coisas não tão boas de se fazer, é encarar problemas que a maioria poria embaixo do tapete.
   Se você diz sim ao chamado de Deus, você não pode escolher o quê e quando fazer. O chamado é dele e não seu. você não pode dizer a Deus que as decisões dele estão erradas e que você não gostou.
  Atender ao chamado divino implica submissão. Muitas vezes as circunstâncias não irão mudar só porque você não se adaptou, e aí é hora de você mudar. Todo tempo difícil que você enfrenta é o momento de reajustes, você precisa estar à altura do seu chamado e para que isso aconteça você terá de enfrentar mudanças, terá de sofrer lentamente, terá de aprender a dizer "Sim Senhor" ao invés de "porquê" ou "pra quê".
   Os tempos difíceis não irão acabar com você, eles são extremamente necessários, tal como a comida ao corpo. São eles  que fazem as máscaras caírem e por meio deles você torna suas orações e súplicas mais sinceras e reais. Eles farão você entender que ser submisso à vontade de Deus é o primeiro passo para que você desfrute do propósito dEle na sua vida, e se você observar, as dificuldades e aflições também são degraus da longa escada da vida cristã, a decisão é sua,ou continua subindo ou desce.
   Independente da sua escolha, você precisa aceitar que ser chamado por Deus é sinônimo de vida com renúncias, perseguições e muito esforço. Ele não disse que seria fácil e se falaram isso a você, mentiram! Apesar das dificuldades Ele prometeu que jamais te deixaria só, obviamente isso não torna as coisas muito mais fáceis, mas torna você capaz de enfrentar e vencer as adversidades de cada dia.

Cássia de Oliveira

(25/06/14)

Se você não desabafa, você enlouquece!

   
        Às vezes me perco em meio aos pensamentos, buscando definir o que quero ser, ter e para onde quero ir. Mas outras vezes tenho isso tudo tão certo dentro de mim, que minha vontade é saltar de onde estou para a realização de tudo que sonho e aspiro.
Eu não quero passar o resto dos meus dias sentada um uma cadeira que me dói as costas, olhando pra uma tela de computador e respondendo e-mails. Não quero ter que todo dia seguir uma rígida rotina para poder ter uma quantidade de dinheiro no final do mês. Não quero ter que ver meus livros na estante e sentir intensa vontade de lê-los, mas não ter condições devido ao sono e cansaço. Não quero passar meus finais de semana dormindo porque não o fiz de forma suficiente durante a semana. Não quero estudar visando dinheiro ou posição. Não quero estar com pessoas que não me acrescentam e ainda me fazem pensar e falar coisas que não são do meu nível. Não quero sentir a terrível sensação de saber que nesse exato momento muitos precisam de ajuda, mas estou ocupada estudando sobre petróleo e seus derivados. Não quero viver um comodismo espiritual que me faz definhar a cada dia. Não quero depender do que a maioria depende. Não quero ser o que a maioria é. Não quero me arrepender de ter feito nada quando precisava fazer tudo. Não quero pensar que a vida não vale a pena. Não quero deitar na minha cama tão enojada a ponto de não querer me levantar no dia seguinte. Não quero apenas pedir para que Deus ajude as pessoas. Não quero ter como maior meta o crescimento profissional. Não quero pensar que o dinheiro precisa ser adquirido em excesso para se ter paz. Não quero sair às ruas indiferente ao sofrimento das pessoas. Não quero fingir que tudo está bem, quando vejo claramente que não está. Não quero ser hipócrita ao falar de vida com Deus e não viver com Deus. Não quero ter a estúpida conclusão de que a vida se resume em viver. Não quero chorar todos os dias de insatisfação e fazer nada para mudar. Não quero conversar com pessoas individualistas e ter de conviver com elas. Não quero estar rodeada de pessoas que alimentam o sentimento de inveja. Não quero ter de ser e fazer o que os outros pensam ser o correto. Não quero ser apressada nas decisões que não tenho pressa em tomar. Não quero críticas e opiniões que me destroem. Não quero pessoas falsas e calculistas. Não quero ir a um shopping no sábado, me encher de compras e pensar que meu final de semana foi ótimo. Não quero insistir em coisas que não me acrescentam. Não quero depender de redes sociais para me comunicar com seres humanos. Não quero ir à igreja sem pensar em culto a Deus. Não quero ser considerada cristã apenas pelas roupas que uso ou lugares que frequento. Não quero cantar só porque sei cantar. Não quero ter que usar minha criatividade para secularidades. Não quero esquecer das coisas incríveis que vivi. Não quero pensar que pensar perdeu a graça. Não quero me sentir sozinha só porque não tenho alguém ao meu lado. Não quero ser chamada de linda só pela beleza exterior. Não quero vir as coisas fugindo do meu controle e continuar inerte. Não quero pensar que o que sou depende de onde estou. Não quero afirmar que sou livre e viver presa por meus temores. Não quero acumular conhecimento e não os por em prática. Não quero ter que rir daquilo que não encontro graça. Não quero ver tudo acontecendo e continuar no mesmo ritmo. Não quero ser egoísta em ansiar pelo céu, sabendo que muitos nunca ouviram falar nele. Não quero me acomodar só porque a maioria se acomoda. Não quero gastar tempo com futilidades. Não quero pensar só depois de ter falado. Não quero negligenciar meu chamado. Não quero esquecer meus propósitos. Não quero desconsiderar tudo que passei. Não quero lembrar das histórias que li e nunca viver algo semelhante. Não quero ser lembrada por nunca ter tentado. Não quero chegar diante de Deus e me envergonhar por ter feito tão pouco.


Cássia de Oliveira

(18/03/14)
Da Série Desabafo em tempos difíceis
Eu não quero pensar que as coisas não têm mais jeito só porque ainda não encontrei  a solução.
Não quero desistir dos meus sonhos só porque tudo parece distante demais.
Nuvens escuras... eu não consigo enxergar boas notícias.
Hoje sou apenas eu, não há boas companhias. Não há pessoas com quem eu posso  contar. Não há uma saída visível. 
O que encontro são lições. Sim, tudo isso foi projetado cuidadosamente para me ensinar algumas lições. Não sei se estou conseguindo aprender, não sei se serei aprovada. Na verdade é isso que mais me preocupa. Estou conseguindo viver com tudo isso, ou melhor, estou conseguindo sobreviver, mas isso não me faz bem. Talvez seja verdade aquilo que me falaram, que "sou mimada demais" e por isso minha estrutura não é forte suficiente para resistir, ou pode ser que não seja isso, talvez eu nem sei o que é, e tenho gastado tempo demais tentando descobrir.
Talvez eu não esteja conseguindo ouvir tua voz, ou consigo ouvi-la, mas não consigo discernir o que queres. 
Bem, eu não sei o que fazer... pra onde ir... o que pensar.
Nunca quero te decepcionar, mas entendo que o faço com frequência. Eu só preciso de direção... direção... "Eu grito pra ti oh Deus"...

Cássia de Oliveira

(09/04/14)
Da série Desabafo em tempos difíceis
É só mais um dia, mais uma semana, mais um ano...
Daqui a pouco serão décadas, será uma vida.
E eu, bem aqui, já estou cansada, não me pergunte de quê e porquê. Só acredite que cansei.
Eu não gosto disso tudo, assim não vivo na intensidade da vida. Não me completo, nem me acabo, vivo meio assim, pela metade.
A cabeça mais se apoia nas mãos do que se ergue. E o que eu posso fazer?
Não sei, tô tentando encontrar a solução. Já pedi ajuda, mas por enquanto, tudo na mesma.
Talvez eu tenha que resolver sozinha, mas preciso de uma direção, não posso fugir para o que quero sem saber qual o caminho.
Também não posso pensar que assim está bem, porque não está.
Não posso aceitar que isso basta, porque é mentira e eu não gosto de mentiras.
Só preciso de uma atençãozinha, porque estou definitivamente determinada a dar o ponta pé inicial.

Cássia de Oliveira

(08/04/14)
  Da série Desabafo em tempos difíceis

   Você pode procurar em todos os lugares, tentar todos os métodos e experimentar de tudo, porém só descobrirá o prazer de ser livre quando deixar que o filho (Jesus) liberte você. Caso contrário sua busca será inútil e sua vida será tão miserável quanto a tristeza da sua alma.


                               Se, pois, o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. João 8.36

Cássia de Oliveira

sábado, 9 de agosto de 2014

Porque há o direito ao grito!

   Sempre digo que é importante falarmos aos outros as coisas boas que pensamos ao seu respeito, elogiá-los quando merecem, caso contrário, não poderão adivinhar nossas opiniões e na maioria das vezes, sabê-las faz toda diferença.
Ontem eu estava num show evangélico com meus amigos, um culto de adoração a Deus. Em um determinado momento um moço se dirige a mim e diz:
- Oi, teu nome é Cássia né?!
- Sim, sou a Cássia
- Ah! Eu leio o teu blog, bem, já li algumas vezes.
- Sério? Uau que massa!
- Sim, gosto do que escreves.
- Bah! Obrigada. Legal ouvir isso.
Eu realmente gostei da atitude dele, em seguida lembrei que faz tempo que não escrevo e então hoje me senti motivada a pôr algo no papel (Sim. Antes de digitar eu uso caneta e papel rs).
  Entre os louvores cantados, os pulos, gritos, danças e mãos levantadas durante o show só se podia ver rostos expressando uma alegria contagiante. Sabe quando você olha ao redor e percebe uma atmosfera incrível, uma paz sobrenatural? Então, era essa a sensação que eu estava experimentando.
A única bebida que ingeríamos era água e até onde sei ela não causa nenhuma sensação de êxtase, apenas sacia a sede e aí pensei: Cara! Nós somos livres. Sim, somos livres, não dependemos de estímulos exteriores, de bebidas alcoólicas, drogas, roupas sensuais, nós simplesmente temos a liberdade em Cristo Jesus.  Nós gritávamos em uma só voz "Ah! Jesus é rei. Ah! me conquistou. Ah! Me libertou pra viver uma nova história. Ah Jesus é rei..."
 Comecei a lembrar dos nossos irmãos sendo perseguidos e mortos em diversos países. Iraque, Somália, Síria, Nigéria, nesses e em outros lugares pessoas sendo executadas, arrancadas de suas casas por não negarem  ao seu Deus. Precisam fazer cultos  escondidos, viver de forma clandestina, não podem revelar publicamente sua fé, não podem viver como cidadãos dignos com liberdade de expressão religiosa.
Ao recordar disso, eu agradeci muito a Deus, dei graças por poder estar com meus amigos tarde da noite cantando e dançando, gritando que Jesus é nosso Senhor. Agradeci por viver num país onde temos liberdade, agradeci porque temos pessoas que se envolvem e se empenham em realizar eventos desse nível, agradeci porque podemos compartilhar nossa fé em qualquer lugar.
Li um depoimento de um cristão perseguido e ele dizia que "gostaria de poder apenas estar dentro de uma igreja e gritar o nome do Senhor Jesus Cristo, bem alto". Poxa, eu realmente me comovi com essa frase. O que podemos fazer todos os dias é o desejo ardente de muitas pessoas. Nós podemos expressar o nosso amor pelo único e verdadeiro Deus, o nosso Deus! Nós temos templos pra nos reunirmos, temos praças, centro de eventos, praias, parques, podemos louvar ao Senhor em todos esses lugares sem restrições.
É tempo de sermos mais agradecidos, de deixarmos arder ainda mais forte o primeiro amor, de aproveitarmos mesmo cada oportunidade e professarmos nossa fé. É tempo de desenvolvermos um coração grato e valorizarmos a liberdade que Cristo nos deu.

Cássia de Oliveira

domingo, 27 de abril de 2014

Talvez uma Autoajuda

    Você nunca estará pronto, jamais será a pessoa perfeita, um ser acabado que não necessita de ajustes. Algumas pessoas exigem perfeição de você, às vezes você mesmo exige isso, mas não seja tão cruel com você mesmo, não deixe de fazer coisas que sempre quis por não se achar preparado, não espere a excelência antes de tentar, não dê ouvidos para quem não merece sua atenção, não pense que você é incapaz. E não importa se falaram isso, lembre-se que há pessoas que pensam apenas depois de falar e outras, lamentavelmente nem conseguem pensar.
  Não aja como apenas mais um, não se diminua só porque não está no topo. Não alimente sentimentos ruins, não guarde (no coração e na gaveta) o que não te acrescenta. Não SONHE com coisas supérfluas, não LEMBRE daquilo que não vale ser lembrado.
  VALORIZE os pequenos atos, se você observar, verá que não são tão pequenos quanto parecem. Aproveite cada momento de sua caminhada, lembre-se sempre que é melhor terminar bem do que iniciar bem. Se você conseguir ambos, ótimo!
  Não seja tão insensível com aqueles que te rodeiam, sejam eles família, amigos, estranhos ou inimigos. Todos precisam de um abraço, todos merecem um sorriso, mesmo que não sejam capazes de devolvê-lo. Não exija das pessoas atitudes que são grandes demais para elas.
   VIVA o amor na sua intensidade, COMPARTILHE boas ideias, não gaste seu tempo falando de alguém que não está presente para se defender.
   Não seja pessimista diante das adversidades. Não pense que tudo acabou só porque parece acabado, procure encontrar o lado bom da tragédia, sempre há.
   Não fale sobre Deus como algo distante e inatingível, Ele sempre está mais perto que você imagina. Não o procure apenas nos dias difíceis, a companhia dele é extremamente agradável em todas as horas. Não pense que Ele é seletivo como os humanos, Ele não considera sua aparência exterior e seus bens para se aproximar, Ele vê seu coração.
    Não seja negligente com seus sentimentos, não finja que tudo está bem por medo do que irão falar. Não sofra apenas para agradar as pessoas. Não deixe de sonhar, não pense que há coisas inalcançáveis, elas só existirão, se você quiser. ACREDITE em seu potencial, CONFIE que você tem um alto valor, você foi comprado por preço de sangue.
   Não deixe que a tristeza ocupe lugar e seu coração, não desista de lutar pela paz, não seja indiferente às necessidades alheias, não desvalorize a vida.  E por último, não viva como se a morte fosse o fim, lembre-se, há uma eternidade além dela.

Cássia de Oliveira

quinta-feira, 27 de março de 2014

Só uma reflexão

Ao longo dos dias tenho aprendido que com cada  situação difícil, que entristece o coração e abate a alma, junto recebemos uma boa lição, algo que como cristão precisamos aprender na prática.

E a lição da semana foi...

...Sempre haverá ao seu redor, pessoas que se aproximarão apenas quando estiverem enfrentando problemas, precisando de ajuda. Elas não se importam com você ou seus sentimentos, não consideram o que você é, algumas até sentem inveja, entretanto,  elas reconhecem que precisam da sua ajuda e não costumam disfarçar isso.
  Você não precisa gastar energia tentando descobrir o que se passa em uma mente assim, ou o porquê de existir pessoas que agem dessa forma. Você deve aceitar que num mundo tão grande, é impossível que todos sejam iguais. Muitos viveram e  vivem situações delicadas, traumas e momentos que lhe fizeram ser o que são e fazer o que fazem. Se alimentam sentimentos ruins em relação a você, não é de todo culpa delas, pois falta-lhes sabedoria e maturidade espiritual para eliminar pensamentos e desejos que não são divinos.
  Quando alguém chega até você em busca de conselho ou amparo, você não pode levar em conta o que essa pessoa já causou a você ou o nível de amizade existente. Não importa se ela já te fez chorar ou te difamou.Isso definitivamente não pode ser considerado.                                                                                   Quando você prega o amor, você precisa vivê-lo e não será você quem vai escolher quando e onde pô-lo em prática. É preciso discernir a sutil diferença entre amizade  e amor, a amizade é seletiva, você escolhe quem deseja ter como amigo, já o amor, não é alvo apenas de alguns, precisa abranger a todos. Você não pode impor condições para amar.
 Você jamais poderá negligenciar um pedido de socorro, jamais poderá deixar de estender a mão e ajudar. Você não precisa pagar com a mesma moeda, porque você é forte o suficiente para não agir assim.
Você oferece seu tempo e ouvidos, não importa o que te fizeram ou deixaram de fazer. Você escolheu viver o cristianismo e ajudar quem te quer no chão, faz parte dessa escolha.
   Em cada palavra liberada, em cada mão estendida, independente de quem seja, você reconhece que está refletindo a imagem e semelhança de Deus e cumprindo um dos maiores mandamentos - "ame a seu próximo como a você mesmo" - e diante disso, nenhum sentimento ruim pode prevalecer.

Cássia de Oliveira


quarta-feira, 19 de março de 2014

Encha Sua Bolsa!


"Pra que uma bolsa desse tamanho? Vai viajar?” É, eu sei que vocês meninas se identificaram com a piadinha sem graça, pois em algum momento, em algum lugar ouviram isso de um homem quando viu sua bolsa pronta pra ser levada a um local de rotina, como Igreja, trabalho, faculdade ou outro. 

Na maioria das vezes você nem faz muito caso pra responder, até porque não são todos que entendem que isso é uma questão de prevenção. Nas bolsas femininas sempre se encontra de tudo. Carteira com documentos, cartões, dinheiro (nem sempre rs), pois são extremamente necessários; celular, que hoje em dia tornou-se indispensável; guarda-chuva, caso apareça aquela chuvinha de repente; álcool em gel e creme para as mãos; um perfumezinho; band-aid para os calos indesejados; espelho; maquiagem para a retocadinha básica; caneta; papel; remédios para cólica, dor de cabeça; lenço de papel; ufa! A lista é quase interminável. Ah! E vale lembrar que ainda precisa ficar um espaço pra guardar a chave do carro/moto, e carteira dos meninos, né?!

Bem, esses detalhes descrevem um pouco a preocupação das mulheres com a beleza, não importa o horário, nem onde estão, sempre procuram parecer belas e asseadas. Até aí, nada de errado, afinal, são características inatas das damas, não dá pra fugir. Toda mulher gosta de estar ajeitada, bonita e pra isso, sempre faz o que pode e até o que não pode. Consegue dar um jeito de melhorar aquilo que para muitos, já está bom. Não é assim?! 

Pensando nesse assunto, dias desse me veio à mente a seguinte pergunta: Será que também estou carregando uma “bolsa” com coisas importantes para manter minha beleza interior? Ou será que já aderi à ideia imposta pela mídia, de que o importante é o meu corpo, minha beleza física e já nem me importo em ser bonita por dentro? 

Meninas, vocês já reservaram um tempo pra meditar nisso? Muitas vezes, percebemos algumas meninas/mulheres que estão obcecadas. Peso, cor de cabelo, tamanho de unha, altura, medidas, tudo isso é incluído numa busca desgastante e inesgotável. Uma ditadura estabelecida por uma sociedade totalmente invertida e desumana, onde quem não se encaixa no padrão é considerada feia, cafona. Muitas se submetem a sacrifícios enormes para alcançar pequenos detalhes que às vezes nem são notados. Entenda que não estou me referindo ao cuidado que devemos ter com nosso corpo, jamais. Devemos sim ter uma alimentação saudável, fazer exercícios, cuidar da pele, cabelo, afinal, somos templo do Espírito Santo e agradamos a Deus quando nos preocupamos com nossa saúde e aparência. A questão, entretanto, é a forma como muitas estão lidando com isso, depositam uma preocupação demasiada com algo passageiro, e que acaba atrapalhando o relacionamento com Deus.

No 1º livro de Samuel, capítulo 16 e versículo 7, encontramos a seguinte afirmação: “...Porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” Diante disso, fica evidente a necessidade de se manter um equilíbrio entre o cuidar do corpo e o cuidar do interior. Se você dispensa atenção apenas para o coração, seu exterior será afetado, da mesma forma, se você se interessa apenas com o corpo físico, certamente seu relacionamento com Deus ficará em segundo plano. 

A preocupação excessiva com a beleza exterior é na realidade, o reflexo de que algo não está bem no coração. Então muitas pessoas tentam compensar o problema interno que não pode ser visto, melhorando a beleza visível aos olhos humanos. É uma forma de “mostrar” a todos que está tudo ótimo, quando na verdade, não está.

Lembre-se que o Senhor contempla e sonda o coração, ainda que você tente disfarçar, Deus sabe que seu interior não está tão bonito. Busque encantar os olhos do Pai com um coração cheio de beleza. Encha sua bolsa com “acessórios” que aperfeiçoam seu caráter, quem você realmente é, e então esse brilho refletirá aos olhos de todos.

Procure direção divina em cada passo, em cada ação, para que sua vida não seja semelhante à da mulher citada em Provérbios 11.22, “como joia de ouro em focinho de porco, assim é a mulher formosa, mas indiscreta.” Você foi criada à imagem e semelhança de Deus e sua beleza só será completa a partir do momento em que permitir essa imagem ser refletida em você. 

Para finalizar, deixo um conselho do apóstolo Pedro em sua 1ª carta, “sua beleza deve estar no interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranquilo, o que é de grande valor para Deus.”(3.4).

Que o Senhor abençoe sua vida e que você tenha sempre no coração o desejo de ser linda para Deus.

Um abraço.


Cássia de Oliveira

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sorrir quando as coisas não vão muito bem, é uma forma simples de dizer:
Deus, eu continuo confiando em ti.


Cássia de Oliveira

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

 
  Morte também é assunto!



   Na rua ainda não havia tipo algum de pavimentação, o bairro era tranquilo e harmonioso, os vaga-lumes voavam piscando suas luzes encantadoras e durante a noite ainda se podia ouvir as risadas e gritos de crianças brincando e correndo de um lado para outro.  Diante desse cenário, durante minhas pausas do pega-pega, não foram poucas as vezes que, ainda com pouca idade, me deparava sentada no gramado, sob o imenso céu, observando as estrelas e tentando descobrir em cada uma delas, as pessoas da minha rua que haviam morrido. Meu raciocínio lógico era de que as que mais brilhavam eram as pessoas mais legais, e as outras, com brilho de menor intensidade, eram os mortos não tão bons.
     Esse momento reflexivo, que certamente não acontecia apenas comigo, se dava pelo fato de que uma criança ao questionar um adulto sobre o que era a morte e o porquê dela existir, a resposta mais comum e “prática” que recebia era que Deus gostava de estrelas e vez ou outra escolhia pessoas para ir brilhar no céu. Eu até que me convencia e confesso que apesar de parecer monótono, achava interessante o fato de se “transformar” em estrela. Depois de aprender a ler, nos tempos que passava junta aos meus Gibis tive outra alternativa, a Dona Morte apareceria num dia qualquer com sua capa preta e sua foice na mão e nos levaria para o cemitério. Sem, dor, sem tristeza, simples como aceitar um convite qualquer. Apesar disso, eu continuava achando a resposta da estrela mais empolgante.
    Com o passar do tempo muitas coisas iam mudando, tomando novas formas, novos rumos. As pessoas continuavam morrendo, mas ao admirar uma noite com céu estrelado, a ideia de pessoas estrelas já não passava mais pela cabeça. E sobre os Gibis, bem, as leituras foram evoluindo. A realidade era outra, já se havia aprendido sobre a estrutura tricotômica - corpo, alma e espírito, sobre salvação da alma, sobre céu e inferno, sobre vida eterna. Então, diante de um falecimento, além da tristeza, estava presente também a preocupação em saber se aquela pessoa havia partido com salvação.
    Hoje, as mudanças continuam acontecendo de forma bem acelerada, grandes avanços e conquistas todos os dias, entretanto, o ciclo continua o mesmo, irreversível, pessoas nascem, pessoas morrem. Muitos mostram-se desconfortáveis ao falar em morte, procuram evitar, pois remete às lembranças de momentos tristes.  Esse não costuma ser o assunto predileto numa roda de amigos, em reuniões de família ou em posts nas redes sociais, quando na verdade deveria ser lembrado e comentado com frequência. Afinal, posso morrer antes mesmo de concluir minha escrita, bem como você leitor pode não amanhecer vivo no próximo dia.  O grande sábio, há muito tempo já afirmou que “ É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem esquecer disso.” (Eclesiastes 7.2)
    Diante disso, fica a seguinte interrogação: Seu modo de viver lhe fornece a correta preparação para a morte? Ou você leva a vida de forma tão tranquila que até esqueceu da possibilidade de morrer?
    Pense nisso! Pare um pouco de fazer planos para 2.050 e gaste um tempinho pensando na morte. Você pode acreditar em Deus, deuses, vida eterna, reencarnação, purgatório e outras coisas do gênero, todavia, apesar de suas crenças, algumas verdades não podem ser relativizadas, uma dessas verdades é a existência de céu e inferno, a outra, é que esses dois lugares serão habitados e todos nós iremos para um, ou para outro. As opções estão aí, a escolha é nossa, a consequência das decisões tomadas, também!


Cássia de Oliveira