terça-feira, 19 de agosto de 2014

O Meu Papel Parede!



         Três horas da madrugada e eu me pergunto o quê minha mãe talvez já tenha se perguntado há bastante tempo: porque eu escrevo na parede enquanto minhas gavetas estão cheias de papéis?

Bem, não foi preciso pensar muito. Comecei a responder pra mim mesma que escrevo nas paredes não porque sou desocupada ou porque as pessoas que entram em meu quarto acham legal. Dentre outras razões, faço isso porque aprendi que o travesseiro não serve apenas para uma agradável noite de sono. Além de contribuir para um bom descanso, ele é um companheiro que ajuda a alar a imaginação. Assim como a escrita, ele parece desembaraçar os pensamentos mais complexos. Agora provavelmente você acaba de pensar, “ué! O que travesseiro e parede têm em comum?”, e eu explico, por muitas vezes esse objeto fofo de repousar a cabeça foi testemunha secreta dos meus pensamentos mais insanos e embaraçosos. Durante esses momentos em que eu tinha apenas ele como companhia física pra dividir o que se passava em minha mente, eu mantive meus olhos abertos, fitos na parede e isso me foi a solução de não me perder em meio ao turbilhão de ideias, reflexões e dúvidas.

Quando me senti triste, olhei pra frente e li na parede que “ostra feliz não faz pérola”, logo, preciso de tempos difíceis pra produzir boas coisas.
 Quando ansiosa em demasia, “piano, piano se va lontano”, percebi mais uma vez que ao ir muito rápido, canso demais e perco a força para prosseguir. 
 Nos momentos em que pensei nunca poder influenciar, “vós sois a geração eleita”, e pude ouvir novamente a voz do meu amigo Espírito Santo dizendo: “sim, eu te escolhi”. 
 Naqueles dias que enganei a mim mesma aparentando ser o que não era, “esse quam videri”, e lembrei que muitas coisas mudam, mas o ser ainda ultrapassa a aparência. 
 Quando parecia tudo perdido, “a esperança viva está”, e descartei definitivamente o ditado “a esperança é a última que morre”, afinal, ela não morre, apenas se esconde vez ou outra. 
 Em tempos onde o medo me atormentava, “se Deus está conosco não há o que temer”, relembrava que meu Deus é maior que tudo. Ele é o Eu Sou. 
 Quando pedi a morte por desejar mais estar com Deus do que aqui, “hold on, we’re going home”, entendi que já esteve bem mais longe, muito breve, num piscar de olhos, estarei em casa. 
 Nas situações em que pensei não valer a pena escrever, “verba volant scripta manent”, e compreendi que talvez daqui a algum tempo, alguns não poderão me ouvir, mas poderão me ler. 
 Quando desacreditei da existência de pessoas sensíveis à poesia, lá estava na parede um poema feito pra mim, concluí que nem tudo está perdido. 
 Em momentos que permiti surgir uma faísca de vingança, “bem aventurado os pacificadores”, e lembrei que sou seguidora de Cristo. 
 Nas horas que lamentei por ter falhado, “And I’m horrible limited”, acordei para a realidade – sou humana. 
 Quando reclamei da dificuldade em alcançar meus sonhos, “Quanto maior o objetivo, maior o sacrifício”, mais alguma reclamação?
 Nos dias que apenas chorei, “e Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima”, continuei chorando...

E então, diante disso, concluí que pra falar com o rei Belsazar Deus escreveu na parede, na minha, eu mesma escrevo, mas também ouço a voz dEle. Uns acham legalzinho, outros falta do que fazer. Pra mim é muito mais. Aprendi que posso ouvir a voz de Deus de diversas maneiras, em todos os lugares e com apenas uma condição, a de ter a sensibilidade de deixar os ouvidos sempre abertos.



Cássia de Oliveira
(14/08/14)

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