Às vezes me perco em meio aos pensamentos, buscando definir o
que quero ser, ter e para onde quero ir. Mas outras vezes tenho isso tudo tão
certo dentro de mim, que minha vontade é saltar de onde estou para a realização
de tudo que sonho e aspiro.
Eu não quero passar o resto dos meus dias sentada um uma
cadeira que me dói as costas, olhando pra uma tela de computador e respondendo
e-mails. Não quero ter que todo dia seguir uma rígida rotina para poder ter uma
quantidade de dinheiro no final do mês. Não quero ter que ver meus livros na
estante e sentir intensa vontade de lê-los, mas não ter condições devido ao
sono e cansaço. Não quero passar meus finais de semana dormindo porque não o
fiz de forma suficiente durante a semana. Não quero estudar visando dinheiro ou
posição. Não quero estar com pessoas que não me acrescentam e ainda me fazem
pensar e falar coisas que não são do meu nível. Não quero sentir a terrível
sensação de saber que nesse exato momento muitos precisam de ajuda, mas estou
ocupada estudando sobre petróleo e seus derivados. Não quero viver um comodismo
espiritual que me faz definhar a cada dia. Não quero depender do que a maioria
depende. Não quero ser o que a maioria é. Não quero me arrepender de ter feito
nada quando precisava fazer tudo. Não quero pensar que a vida não vale a pena.
Não quero deitar na minha cama tão enojada a ponto de não querer me levantar no
dia seguinte. Não quero apenas pedir para que Deus ajude as pessoas. Não quero
ter como maior meta o crescimento profissional. Não quero pensar que o dinheiro
precisa ser adquirido em excesso para se ter paz. Não quero sair às ruas
indiferente ao sofrimento das pessoas. Não quero fingir que tudo está bem,
quando vejo claramente que não está. Não quero ser hipócrita ao falar de vida
com Deus e não viver com Deus. Não quero ter a estúpida conclusão de que a vida
se resume em viver. Não quero chorar todos os dias de insatisfação e fazer nada
para mudar. Não quero conversar com pessoas individualistas e ter de conviver
com elas. Não quero estar rodeada de pessoas que alimentam o sentimento de
inveja. Não quero ter de ser e fazer o que os outros pensam ser o correto. Não
quero ser apressada nas decisões que não tenho pressa em tomar. Não quero
críticas e opiniões que me destroem. Não quero pessoas falsas e calculistas.
Não quero ir a um shopping no sábado, me encher de compras e pensar que meu
final de semana foi ótimo. Não quero insistir em coisas que não me acrescentam.
Não quero depender de redes sociais para me comunicar com seres humanos. Não
quero ir à igreja sem pensar em culto a Deus. Não quero ser considerada cristã
apenas pelas roupas que uso ou lugares que frequento. Não quero cantar só
porque sei cantar. Não quero ter que usar minha criatividade para
secularidades. Não quero esquecer das coisas incríveis que vivi. Não quero
pensar que pensar perdeu a graça. Não quero me sentir sozinha só porque não
tenho alguém ao meu lado. Não quero ser chamada de linda só pela beleza
exterior. Não quero vir as coisas fugindo do meu controle e continuar inerte.
Não quero pensar que o que sou depende de onde estou. Não quero afirmar que sou
livre e viver presa por meus temores. Não quero acumular conhecimento e não os
por em prática. Não quero ter que rir daquilo que não encontro graça. Não quero
ver tudo acontecendo e continuar no mesmo ritmo. Não quero ser egoísta em
ansiar pelo céu, sabendo que muitos nunca ouviram falar nele. Não quero me
acomodar só porque a maioria se acomoda. Não quero gastar tempo com
futilidades. Não quero pensar só depois de ter falado. Não quero negligenciar
meu chamado. Não quero esquecer meus propósitos. Não quero desconsiderar tudo
que passei. Não quero lembrar das histórias que li e nunca viver algo
semelhante. Não quero ser lembrada por nunca ter tentado. Não quero chegar
diante de Deus e me envergonhar por ter feito tão pouco.
Cássia de Oliveira
(18/03/14)
Da Série Desabafo em tempos difíceis
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