quarta-feira, 25 de março de 2020

Empatize-se

Sei que em eras digitais, muitos não têm paciência para "longos" textos. E os que têm, nos últimos dias estão saturados de leitura, um hábito que tem divagado de bons livros à matérias e informativos tristes e preocupantes.
De qualquer forma, vou escrever, porque me acalma e embora haja preocupações maiores, as minhas compõem uma lista não pequena. Cada um com sua lista, temos um país inteiro beirando o desespero.
Por mais que tentemos ser solidários e empáticos, conversa vai, conversa vem, percebemos que cada um pensa primeiro em si e nos seus. E quando alguém não revela tal posicionamento na conversa, o faz em seus atos. Verdade é, que nosso amado Quintana estava bem certo quando escreveu, “A nós bastam nossos próprios ais, Que a ninguém sua cruz é pequenina. Por pior que seja a situação na China, os nossos calos doem muito mais...” Por ironia, o poema encaixa-se duplamente na atual situação.
 Eu diria que é natural e não errado, colocar-se a si, família e amigos em primeiro lugar. Sempre daremos prioridade a quem nos é mais chegado e por quem temos afeto. Errado, penso eu, é desconsiderar todo o resto. Ou fingir que considera, criticando intensamente o poder público, líderes religiosos e profissionais da saúde, mas, comprar band-aid apenas para seus calos.  Não vou dizer aqui que o presidente (amado por uns e odiado por outros), o pastor que não fechou a igreja (também amado por uns e odiado por outros) e os médicos infectologistas estão certos ou errados.  E não vou falar nada sobre, porque minha opinião não importa nesse momento. Não vai diminuir o caos que se instaurou na nação; não vai diminuir o problema de ninguém. Xingar A ou B, só me faz descer o nível, não melhora as coisas.
Se todas as decisões que foram tomadas até aqui, tivessem sido diferentes, da mesma forma, uma metade estaria de acordo e a outra, discordando. Igualmente teria muita gente descarregando insultos, postando trezentos stories de sátiras e fazendo NADA para amenizar o sofrimento alheio. E não pense que sofre só os que testam positivo para Covid-19, sofre todo mundo. Quem pega o vírus e precisa estar hospitalizado, quem trata dele no hospital; quem fica em casa e teme infectar a família; quem não é do grupo de risco, mas anda tão ansioso que é capaz de enfartar; quem não tem o vírus, mas está prestes a perder o emprego; quem já está desempregado e percebe que provavelmente não sairá da situação tão logo; quem tem empresa e está endividado; quem é pai de família e mora precariamente em uma das muitas favelas e sabe que literalmente “se sair o bicho pega e se ficar o bicho come”; quem vive em situação de rua e ainda nem sabe o motivo de tanta gente andar com máscaras por aí... Sofre todo mundo, sofre eu e você.
Aonde eu quero chegar? No ponto em que, embora não sejamos profissionais da saúde, famosos que doam 1 milhão ao SUS, ou o presidente da república para fazermos o que achamos que deveria ser feito, podemos melhorar as coisas aqui e agora. Na nossa alma, nossa casa, comunidade, bairro, nos grupos virtuais, nos seguidores e seguidos das redes sociais...
Somos só mais um no meio de tantos, só mais um sentindo a dor do seu calo mais forte que as dores da Itália, do hospital, da favela, da rua, mas também dos pequenos e grandes empresários, dos governantes, dos milionários... Podemos ser um em tantos, mas também somos todos um só. E se ainda não entendemos, precisamos entender que quando um lado é afetado, todo o outro também é. Porque dependemos uns dos outros. Seja dentro de casa, seja no Brasil inteiro, precisamos de pessoas ao nosso redor. Ninguém faz nada sozinho. Se existe dores maiores e menores, sofrimentos grandes e pequenos, temos a opção de ignorar o menor e pequeno e considerar apenas o grande e maior, ou usar a tão escassa empatia e entender que quando eu categorizo e nivelo o sofrimento, é apenas o meu ponto de vista. E como já dizia o tio Boff, “todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Logo, não ataque alguém, seja lá quem for, apenas por pensar que somente suas preocupações e dores são válidas.
Como já falei, podemos melhorar as coisas. Motive, anime, ajude, encoraje, fortaleça, “empatize-se” e sorria, sempre que possível. Porque sorrir em tempos difíceis, não é fingir que nada está acontecendo.  É ver que tudo está acontecendo e ainda assim, ter esperança!

Um abraço (virtual)!
Cássia de Oliveira