Sei que em eras digitais, muitos não têm paciência para
"longos" textos. E os que têm, nos últimos dias estão saturados
de leitura, um hábito que tem divagado de bons livros à matérias e informativos
tristes e preocupantes.
De qualquer forma, vou escrever, porque me acalma e
embora haja preocupações maiores, as minhas compõem uma lista não pequena. Cada
um com sua lista, temos um país inteiro beirando o desespero.
Por mais que tentemos ser solidários e empáticos,
conversa vai, conversa vem, percebemos que cada um pensa primeiro em si e nos
seus. E quando alguém não revela tal posicionamento na conversa, o faz em seus
atos. Verdade é, que nosso amado Quintana estava bem certo quando escreveu, “A
nós bastam nossos próprios ais, Que a ninguém sua cruz é pequenina. Por pior
que seja a situação na China, os nossos calos doem muito mais...” Por ironia, o
poema encaixa-se duplamente na atual situação.
Eu diria que é
natural e não errado, colocar-se a si, família e amigos em primeiro lugar. Sempre
daremos prioridade a quem nos é mais chegado e por quem temos afeto. Errado,
penso eu, é desconsiderar todo o resto. Ou fingir que considera, criticando
intensamente o poder público, líderes religiosos e profissionais da saúde, mas,
comprar band-aid apenas para seus calos. Não vou dizer aqui que o
presidente (amado por uns e odiado por outros), o pastor que não fechou a
igreja (também amado por uns e odiado por outros) e os médicos infectologistas
estão certos ou errados. E não vou falar
nada sobre, porque minha opinião não importa nesse momento. Não vai diminuir o caos
que se instaurou na nação; não vai diminuir o problema de ninguém. Xingar A ou
B, só me faz descer o nível, não melhora as coisas.
Se todas as decisões que foram tomadas até aqui,
tivessem sido diferentes, da mesma forma, uma metade estaria de acordo e a
outra, discordando. Igualmente teria muita gente descarregando insultos,
postando trezentos stories de sátiras
e fazendo NADA para amenizar o sofrimento alheio. E não pense que sofre só os
que testam positivo para Covid-19, sofre todo mundo. Quem pega o vírus e
precisa estar hospitalizado, quem trata dele no hospital; quem fica em casa e
teme infectar a família; quem não é do grupo de risco, mas anda tão ansioso que
é capaz de enfartar; quem não tem o vírus, mas está prestes a perder o emprego;
quem já está desempregado e percebe que provavelmente não sairá da situação tão
logo; quem tem empresa e está endividado; quem é pai de família e mora precariamente em uma das muitas favelas e
sabe que literalmente “se sair o bicho pega e se ficar o bicho come”; quem vive
em situação de rua e ainda nem sabe o motivo de tanta gente andar com máscaras
por aí... Sofre todo mundo, sofre eu e você.
Aonde eu quero chegar? No ponto em que, embora não sejamos
profissionais da saúde, famosos que doam 1 milhão ao SUS, ou o presidente da república
para fazermos o que achamos que deveria ser feito, podemos melhorar as coisas
aqui e agora. Na nossa alma, nossa casa, comunidade, bairro, nos grupos
virtuais, nos seguidores e seguidos das redes sociais...
Somos só mais um no meio de tantos, só mais um sentindo
a dor do seu calo mais forte que as dores da Itália, do hospital, da favela, da
rua, mas também dos pequenos e grandes empresários, dos governantes, dos
milionários... Podemos ser um em tantos, mas também somos todos um só. E se
ainda não entendemos, precisamos entender que quando um lado é afetado, todo o
outro também é. Porque dependemos uns dos outros. Seja dentro de casa, seja no Brasil
inteiro, precisamos de pessoas ao nosso redor. Ninguém faz nada sozinho. Se existe
dores maiores e menores, sofrimentos grandes e pequenos, temos a opção de
ignorar o menor e pequeno e considerar apenas o grande e maior, ou usar a tão
escassa empatia e entender que quando eu categorizo e nivelo o sofrimento, é
apenas o meu ponto de vista. E como já dizia o tio Boff, “todo ponto de vista é
a vista de um ponto”. Logo, não ataque alguém, seja lá quem for, apenas por
pensar que somente suas preocupações e dores são válidas.
Como já falei, podemos melhorar as coisas. Motive,
anime, ajude, encoraje, fortaleça, “empatize-se” e sorria, sempre que possível.
Porque sorrir em tempos difíceis, não é fingir que nada está acontecendo. É ver que tudo está acontecendo e ainda assim,
ter esperança!
Um abraço (virtual)!
Cássia de Oliveira
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